Durante uma conversa me falaram para não perder a fé na humanidade quando uma pessoa faz algo de ruim ou desrespeitoso contra você. Ironicamente, essa pessoa me causou um grande mal, que já foi deixado para trás e estou citando aqui justamente porque há momentos que devemos deixar para trás algumas coisas e sinto-me a vontade em falar sobre justamente porque o mal causado já não me machuca e foi elaborado.
Sempre brinco com um jargão da psicologia:"Elabore". Em determinados momentos eu digo:"Fulano, elabore tal pessoa ou situação". Elaborar para os leigos pode ser entendido como lide com isso, resolva isso internamente.
Elaborar é um dos processos mais dolorosos, em minha opinião, ao longo da vida e do processo terapêutico (falando em psicanálise e demais terapias regulamentadas pelo CRP). O processo permite a integração, por parte do sujeito, das partes dissociadas, ou seja, o sujeito ao longo da na terapia de consultório e em reflexões sobre e a partir do processo analítico, consegue lidar melhor com questões cruciais, "colando os cacos" deixados por algumas situações.
O trabalho de elaboração implica que o sujeito assuma a sua própria parcela de responsabilidade nos fatos e comportamentos que acompanham a sua vida, é uma tarefa, em grande parte, das funções conscientes, porém ela se processa em nível inconsciente. como no caso dos sonhos.
Como mencionei anteriormente, a elaboração não sai de graça. Comumente vem acompanhada de algum grau de forte sofrimento, pois esse "trabalho" implica em aceitar perdas, renunciar a aspectos antes idealizados, enfrentar pressões externas e, principalmente, internas. Embora a dor vivenciada ao longo do processo é recompensada, por assim dizer, uma vez que a elaboração é a passagem necessária para se obter verdadeiras mudanças na estrutura do caráter, de comportamento, de atingir a liberdade interna e uma libertação de capacidades que, em estado potencial, estão imobilizadas pelos freios neuróticos.
Resumindo de forma menos técnica: elaborar é resolver, realmente, verdadeiramente, as questões que nos incomodam, aceitando nossa parcela de responsabilidade naquilo que acontece conosco.
Retomando o início do post, tomo para mim muito mais responsabilidade que deveria. A maioria das pessoas que falam para eu não perder a fé nos outros por alguma decepção vivida com uma pessoa específica, é quem me decepcionou em um primeiro momento de formas avassaladoras, mas graças a elaboração (que garanto, foi igualmente dolorosa e transformadora) posso perceber a limitação do outro sem abalar o carinho sentido por essa pessoa específica.
Virar as costas é mais fácil que dar a cara a tapa. Fechar os olhos é menos doloroso que abrir o coração. Fugir é menos traumático do que enfrentar.
Viro as costas, fecho os olhos e fujo diariamente e também dou a cara a tapa e abro coração, bem como, enfrento cada adversidade diariamente. Cada ação a seu tempo, na medida que posso, que aguento.
É por isso que no primeiro momento pareço ter perdido a fé na humanidade quando, por exemplo, sou vitima de algo injusto, mas após conversas com amigos, comigo mesma e com minha psicóloga, percebo minha parcela de responsabilidade em tal injustiça e tento aprender com isso para não repetir essa injustiça com um outro. Tempo é necessário para o processo de elaboração. O tempo não cura ou elabora nada, a não ser que o sujeito faça sua parte.
Fazer ou não fazer consistem em ações para o inconsciente e se tem um lugar de onde nunca podermos nos esconder, esse lugar é o inconsciente. Abrigo dos tão famosos fantasmas e assombrações que teimam em aparecer quanto mais rezamos.
E só lembrando: Tomar responsabilidade para si não diminui a responsabilidade do outro e do Estado em inúmeros pontos cruciais da vida em comunidade.
Uma pequena observação, o post foi escrito com afetos internos, algumas inspirações um bocado aleatórias e outras nem tanto, mas certamente é mais um passo no caminho da elaboração.
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